Importante ler o mais recente livro de Thomas Mertom, obra proibida em 1961 - Paz na Era pós-cristã. Só há uns três anos é que este livro foi publicado nos EUA. Agora aqui na Brasil, Ed. Santuário/Aparecida, 2007. O livro aborda as questões da guerra fria EUA e Russia, os riscos da guerra nuclear (mesmo assim bem atual - o fantasma não é mais o comunismo e acabar com ele, agora temos o terrorismo - as guerras estão aí). O livro questiona as justificativas de destruições / de invasões e massacre de inocentes - guerra de toda ordem. Um berro desesperado de alerta. Esta obra foi proibida de ser editado em 1961 /1962. O superior Geral dos monges cisterciences/beneditinos o obrigou a calar-se, alegando que ele tinha é que ficar quieto rezando, e não se pronunciar sobre os riscos de guerra nuclear e/ou outras guerras mais. O silêncio lhe foi imposto. Foi um abalo terrível. Se ele perdeu a liberdade externa, não perdeu a interna, passou a escrever desesperadamente de outra maneira. A contra gosto, ele obedeceu abrindo outra porta ao escrever Sementes de Destruição, 1964, onde embute muito dos conteúdos/idéias do livro proibido. Sementes de Destruição foi editado e recolhido/ “proibido" aqui no Brasil / Ed. Vozes, 1966 - poucos tiveram oportunidade de comprá-lo.
Thomas Merton procurou outros caminhos para manter-se fiel à Verdade, escreveu Gandhi e a não-violência, A Via de Chuang Tzu, Zen e as aves de rapina, Místicos e Mestres Zen. Voltou-se para o extremo Oriente e Oriente Médio em busca dos exemplos de Paz - posturas pacíficas e éticas perante seu próximo e sua consciência. Vivia desesperado diante do temor da destruição programática dos poderosos do mundo... Um profeta contemporâneo. Com amigos não se calou... Continuou a escrever artigos e cartas; intensa correspondência para todas as partes do mundo. Pensou seriamente em abandonar a vida de monge (diários), mas permaneceu no Mosteiro porque achou que seria estratégico. E agora percebemos que nada de fatalidade em sua morte por choque elétrico, por fiação mal feita, algo mais estranho ocorreu. Sabia demais e sua lucidez incomodava os poderosos da linha "dura"...(1915 - 1968). Merton era uma Bomba Atômica de humanidade. Angustiado com as crueldades e corrida armamentista ele propunha diálogo/comunicação com os comunistas e não guerra. Na época do Concílio II enviou os manuscritos do livro proibido para Roma. O Papa João XXIII enviou um emissário, um arquiteto de Veneza para ir pessoalmente, ao Mosteiro estar com Meton e levar um presente. O desespero de Merton contra uma sociedade sedenta de violência não foi em vão. A morte de Thomas Merton não foi em vão. Com poucos que restam, tão poucos realmente cristãos, ele é ainda uma voz viva de esperança por um cristianismo fiel às palavras e atitudes de Jesus de Nazaré - "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei".
postagem martha pires ferreira - verão de 2008
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