quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Três poesias da caixinha com chaves

 
Formas no espaço, nanquim e aquarela, 2013

Poesia compensa plurais anseios. Minha caixinha tem sete chaves, aos poucos vou abrindo e expondo o que o coração andou vivendo e a imaginação desenhou em letras. Os guardados só me dizem respeito, porém, outra sensibilidade poderá caminhar em meus passos.

Sou desenhista das linhas, saboreio os traços das letras! As letras são desenhos gráficos. Grafismo pode poetizar ao rabiscar palavras! Três momentos!

Revelações dispersas   
 
Jamais refém do homem,
amar sem travas, sem redes
_ viver intenso aprisiona
alma e corpo, insaciável!
 
Complexas tramas das horas,
refinadas vertentes encantam
se cruzam, se desfazem,
             se revelam fugidias.
 
Anseio nasce, floresce e morre
_ doçura permanece na entrega
        mútua que o ar dispersa.
Distante é vivo! Revela-se solto
                e mantém...
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 Lembrança
 
Na mesma estrada
          perpassam
tardes e noites
            fugidias, plenas.
 
Momento intenso
marca passeios, diversões
     _ não mais lençóis
             de linho bordado
 _ encontros nossos.
 
Jogo das células vivas,
            amante na alegria
suavizando ocitonina
_ cuidado ameniza
o que natureza convida e
         se escoa sinuosa.
 
Não mais o homem em
                 presença ansiosa,
_ esvaziaram-se planos
       encontros nossos.
Algo surge, envolve e revela
                        sem temor.

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No arco do tempo
 
Se me procura
me encontra.
Se me quer sedento
me vê
no corte longínquo
                          do espaço.
 
Se aceito desejo ardente
num relâmpago
me tenha inteira, solta
sem receio _
presença no arco da esfera
_ nossos sentidos falam
real silêncio aquecido.
 
Sonata de Beethoven.
Jazz, bolero, choro,
samba... e a melodia
no ritmo da bossa
_ pura abstração
no corte longínquo
                      do espaço.

           Martha Pires Ferreira
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