domingo, 19 de novembro de 2023

Poesias da caixa estão voando

 Formas no espaço / detalhe __ nanquim e aquarela/ sem data.

É assim, percorro vias da sensibilidade, o desenho _ ponto e linha me perseguem desde menina. A poesia veio depois, sem pedir licença. Eu a guardei na caixa, com 7 chaves, agora penso que ela pode sair do adormecimento. Claro que libertá-la me deixa com certo pudor, a ousadia me instiga ao me expor. Duas poesias __
 
Junção
 
Buscar ou desejar o quê?
Não a durabilidade da presença,
me perco no vazio intransponível
_ a alma liberta voa perdida no infinito
meu corpo é são _ frágil resistência
sabe ser libélula, planar.
 
O pote é vermelho, gosto dele
assim, porcelana preciosa
impermanente quanto a vida!
Está aqui à minha frente, me olha
essencialmente misterioso na
sua incomensurável plenitude, ser pote.
 
Deixo as portas abertas à entrada
do canto dos pássaros, sinto o aroma
das flores no pote vermelho a invadir
meu castelo interior.
 
Que sábios possam entrar de mãos
vazias a oferecer imensidão.
Minha alma um hino de inocência,
sou criança e fera, fera e criança
_ mais uma vez caminho em silêncio.
 
              Poesia 29/julho/1973, para Claudio Hazan
 [pequenas correções, pontuação]
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Ao Deus Desconhecido
 
Passo meus dias em plenitude!
A vida não proporcionou
companheiro, lado a lado
_ mesmo telhado, rotina
encontros e desencontros
nem lamúria de armadilha
por união vazia de afeto.
 
Presenteou amores fortes,
transgressores, intensos
_ feriu a alma, corpo frágil e
curando chagas vividas ao
sentir a dor dos despossuídos.
 
Amizades são flores, tantas!
Imaginação criativa, realizações
_ o filho é dádiva no jardim
de cada dia, sorriso mesmo longe.
 
Percorri viagens, cultura em
deleite no pensamento, ideias
_interioridade sagrada é fato
espiritualidade em ternura.
 
Viver não excluiu o real sensível
_ Sol da manhã, ar na pele,
prazer da matéria orgânica
ou contemplar minérios,
animais e natureza pulsante _
a Vida me criou amorizante!

         ___   Martha Pires Ferreira

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