Caminho do Autoconhecimento _ 2006



    A Natura tem suas trajetórias, seu caminho a percorrer; vida mineral, vida vegetal, vida animal. A nossa vida, natureza humana, é mais complexa; instintiva, sensorial, emocional, intelectual.
    Somos pensamento, sentimento, intuição e sensação na pontual classificação de C. G. Jung. Somos mais introspectivos ou mais extrospectivos. Somos mais conscientes, mais lúcidos ou mais inconscientes, mais alienados de nossa natureza humana.
    Ao nascer somos chamados a viver a vida. Não fomos criados para sermos mais inteligentes ou nos manter ignorantes, ser ricos ou pobres, famosos ou desconhecidos, poderosos reconhecidos ou ignorados esquecidos, opressores ou oprimidos, incluídos ou excluídos da sociedade. Fomos chamados, criados, a sermos, acima de tudo, seres Humanos, gente, cidadãos e cidadãs em plenitude. Para sermos plenos temos que ser essencialmente humanos, e como seres humanos atravessar etapas pessoais no processo de vida, em consciência de si mesmo. Caminhos escolhidos no desenvolvimento de nossa personalidade devem ter sua meta de completude.  Em essência somos chamados a crescer, a completarmos nossa natureza como pessoas.  Podemos chamar de Via este processo de autoconhecimento. Isto independe do fator social, cultural; são vias naturais da existência.
   Para que sejamos em essência nós mesmos, autênticos, precisamos atravessar etapas nesta via, neste caminhar de autoconhecimento.
    A primeira etapa a percorrer é olharmos de frente para nossa imagem; a aparência que projetamos, a que passamos para os outros, e que nem sempre corresponde à verdade. Muitas vezes usamos máscaras, aparentando o que não somos. Mostramos natureza até melhor do que somos; mais bem resolvida. Representamos para o mundo uma persona, uma imagem. O mundo não nos vê como realmente somos. Não somos o que as pessoas pensam que somos. É preciso termos consciência disto. Procurarmos ser mais verdadeiros/as, autênticos/as é essencial. Nem sempre isto é possível nos meios profissionais, na sociedade, em razão de não nos expormos, o que no caso é compreensível certa distância. Usamos máscaras, uma persona, por defesa. O fundamental é a tomada de consciência de como usamos a aparência, uma imagem agradável, educada, como artifício para nos proteger. A persona é apenas artifício social, nós sabemos quem somos.
    Diante do fato de olharmos para nós mesmos, quando encaramos quem somos de fatos, nos assustamos porque vemos nossa sombra, nosso lado desagradável, escuro, secreto, que geralmente não gostamos de ver, menos ainda mostrar. É a segunda etapa de nosso processo de autoconhecimento; encarar nosso lado sombrio; orgulho, inveja, carências emocionais, preguiça, luxuria, raiva, ódio, ganância ou soberba, e tantas outras coisas desabonadoras que nos tomam com intensidade, que nos desagradam no afetivo e mesmo no intelectual, pensamento.
    Observamos a sombra. Lado obscuro da vida que tantas vezes nós projetamos em pessoas do nosso entorno. Apontamos nos outros o que na verdade é dificuldade ou defeito nosso, fantasias nossas, anseios e problemas nossos. Fundamental é encarar a sombra, enfrentar nosso lado escuro e sombrio procurando polir nossa natureza, nossa vida cotidiana. Corrigir nossos defeitos. Quanto mais reprimida a sombra, mais espeça, sem luz e negra ela se apresentará. Não esmagar nossas limitações, e sim aceita-las ao polir nossa natureza.
    É preciso não ter medo de olharmos de frente nosso lado obscuro, sombrio. Aceitar nossos defeitos e limitações é básico para que novas frentes surjam em níveis de consciência mais elevados.
    A sombra poderá se positiva; deve ser encarada por todos/as que se detém em baixa estima, pessoas que não olham seus valores elevados, seus talentos ou dons. Por tanto a sombra poderá mostrar-se luminosa, revelar-se positiva, criativa.
    Quanto mais conscientes somos de nós mesmos, mais e melhor poderemos confrontar nossa terceira etapa; a natureza complexa em forças opostas, complementares; o feminino e o masculino que não se detém em fatores corpóreos pertencentes ao mundo da mulher ou do homem; são potencialidades ing e yang como expressa a cultura chinesa – sombra e luz, receptivas e ativas. Potencialidade feminina e masculina, existente em cada um de nós.
    Ao encararmos o Animus, o quantum do lado masculino, guerreiro e ativo que existe na mulher e a Anima, o lado feminino, frágil e sensível que existe no homem, passamos a ter um conhecimento mais apurado e profundo de nós mesmos, e, da riqueza da natureza humana em sua totalidade; mais integração entre as pessoas na sociedade em sua complexidade. Não se pretende perfeição humana, mas sermos mais completos, harmoniosos.
    Ao integrarmos nossos opostos, consciente e inconsciente somos mais felizes. Quando aceitamos e compreendemos o que são estas energias que emergem do inconsciente e as harmonizamos com nosso consciente, somos mais completos e plenos. Compreender as forças que emergem do inconsciente é enriquecer o consciente.
    Na integração de forças complementares de energias opostas, sombrias e luminosas, escuras e claras, desagradáveis e agradáveis, passamos a sermos mais firmes, corajosos /as, diante da fonte essencial da vida; chegamos ao Centro criador, o Self, usando conceito de C. G. Jung, a última etapa percorrida no processo de individuação. O Quaternio, a harmonia existencial.
    O Caminho ou Via do Autoconhecimento não para nunca, percebemos simplesmente que somos únicos, e pertencentes ao imenso universo coletivo, ao todo indivisível que nos cerca numa inter-relação, interdependência e comunhão com toda a espécie humana em sua diversidade, sem exclusões, no campo relativo e integrado no Absoluto, no Cosmo. Quando percorremos a Via do Autoconhecimento adquirimos Visão de Totalidade; visão maior que nos transcende, algo de divino que se expressa na matéria. Sentimos pertencimento de novo ser “liberado”, “realizado”, diante da vida.

Martha Pires Ferreira - palestra-aula - 2006.

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