sábado, 8 de fevereiro de 2020

Amor à Solidão - um pouco de Thomas Merton


     ___  Na liberdade da Solidão – li esta obra de Thomas Merton, pela primeira vez, quando ainda muito jovem, 1961. Não tinha, ainda, meus 23 anos. Agora, chegando aos 81, neste mês de fevereiro, sem qualquer questão com a idade, releio este Mestre, um homem que em muito me identifiquei no temperamento rebelde e libertário, e, em sua visão de mundo com grande paixão e espiritualidade – vida de solidão que a tudo transcende.



    Suas palavras, sublinhadas, no velho livro da Ed. Vozes: 
    “A vida se revela a nós somente na medida em que a vivemos”
    ”Quando nossa vida se nutre de irrealidade, morremos de fome. Não há maior desgraça do que confundir essa morte estéril com a verdadeira e frutuosa “morte”, pela qual entramos na vida”.
    “Viver não é pensar. Viver é o constante ajustar-se do pensamento à vida e da vida ao pensamento, de tal modo que estejamos sempre em crescimento, sempre tendo a experiência de coisas novas nas antigas, e de antigas nas novas. Assim, a vida é sempre coisa nova”.
    “Sem coragem jamais poderemos atingir a verdadeira simplicidade”.
    “Minha esperança está no que os olhos nunca viram. Portanto, não me deixeis confiar nas recompensas vivíveis. Minha esperança está naquilo que o coração não pode sentir. (...) Minha esperança está naquilo em que a mão do homem jamais tocou”.
    “Para espiritualizar nossos desejos, desejemos não ter desejos”.
    “Ideias e palavras não constituem o alimento da inteligência, mas sim a verdade”.
    “A solução do problema da vida é a própria vida. Não se realiza a vida pelo raciocínio e a análise, mas antes de tudo, vivendo”. 

    “Amar a solidão e procurá-la não significa transportar-se de uma possibilidade geográfica a outra. Torna-se alguém solitário no momento em que, seja qual for seu ambiente externo, toma, de repente, consciência de sua própria e inalienável solidão e compreende que jamais será outra coisa senão em solitário. Desde esse momento, solidão não é apenas potencial – é atual.
    Todavia, a solidão real sempre nos coloca concretamente na presença de uma possibilidade não realizada e até irrealizável de “perfeita solidão”. Mas isso tem que ser bem compreendido; pois perdemos a realidade da solidão que já possuímos, se tentarmos com demasiada ansiedade realizar a possibilidade exterior maior, que nos parece, por um nada, fora de nosso alcance. A verdadeira solidão tem como um dos pontos integrantes a insatisfação e incerteza que nos vem do fato de estarmos em face de uma possibilidade não realizada. Não é uma busca frenética de possibilidades - e sim uma humilde aceitação que nos estabiliza em presença de uma enorme realidade que, em certo sentido, já possuímos, e que, por outro lado, é uma “possibilidade”, um objetivo de esperança.
    Só quando o solitário morre e vai para o céu (ou chega até à Luz de Deus – parênteses é meu), é que vê com clareza que essa possibilidade já estava atualizada em sua vida e ele não o sabia – pois sua solidão consistia, sobretudo, na “possibilidade” de possuir Deus (a Luz da Consciência em sua totalidade) e nada mais senão Deus, em sua pura esperança”.
    “As palavras estão colocadas entre silêncio e silêncio; entre o silêncio das coisas e o silêncio de nosso próprio ser. Entre o silêncio do mundo e o silêncio de Deus”.
    “Não é falar que rompe nosso silêncio, mas a ansiedade de ser ouvido”.
    “Toda nossa vida é uma meditação sobre nossa decisão final – a única que importa”.
    “O solitário é alguém que tomou uma decisão tão forte que pode ser provada pelo deserto, isto é, pela morte”.
    “O solitário é necessariamente alguém que faz aquilo que quer. Em realidade, nada mais tem a fazer senão isso” - (segue sua própria consciência).
    “O Solitário deve ser alguém que tenha a coragem de fazer, neste mundo, aquilo que mais tem vontade de fazer – viver em solidão.
    “Deveria eu ser capaz de voltar cada vez à solidão como ao lugar que jamais descrevi a ninguém, ao lugar ao qual nunca convidei alguém a ver, como um lugar cujo silêncio acalentou uma vida interior conhecida unicamente por Deus”.

Martha Pires Ferreira, 8 de fevereiro de 2020.
Desenho no envelope, 2007.

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