quinta-feira, 12 de julho de 2018

A subida do monte castelo - João da Cruz


   Minhas complexidades, caminhos afetivos em anseios físicos e espirituais me impulsionam a plurais vertentes; ora estou no chão da matéria corpórea, ora no resplendor das percepções sutis que a tudo apreende na passividade da alma. Eterna luta dos opostos no coração da vida.
   Retorno a João da Cruz, o místico espanhol que sempre me serviu de mestre nos assuntos da transcendência; “se queres ser tudo, não queiras ser coisa alguma”, assim ficou gravada, em mim, a primeira leitura que fiz de sua poesia.
    Texto:   “(...) porque quem quiser achar uma coisa escondida, há de entrar muito escondidamente e até ao esconderijo onde ela está; e quando a acha fica, também, escondida com ela”. (Ele se referia a S. Mateus 13; 44).
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São João da Cruz – carmelita e poeta espanhol (1542 -1591)
Obras completas - Carmelo de São José – 1946/47, Portugal.
A subida do monte castelo
                    São João da Cruz
Para vir a gostar de tudo,
Não queiras ter gosto de nada.
Para vir a saber tudo,
Não queiras saber algo em nada.
Para vir a possuir tudo,
Não queiras possuir algo em nada.

Para vir ao que não gostas,
Hás de ir por onde não gostas.
Para vir ao que não sabes,
Hás de ir por onde não sabes.
Para possuir o que não possuis,
Hás de ir por onde não possuis.
Para vir ao que não és,
Hás de ir por onde não és.

Quando reparas em algo,
Deixas de arrojar-te ao todo.
Para vir de todo ao todo,
Hás de deixar-te de todo em tudo.
E quando o venhas de todo a ter,
Hás de te-lo sem nada querer.

Nesta desnudes acha o espírito o seu descanso
          porque não cobiçando nada,
Nada o afadiga para cima e nada oprime
         para baixo porque está no centro
                               da sua humildade.   
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           Retomei João da Cruz ao ganhar, há dias, este livro El Raja Yoga de San Juan De La Cruz – Swami Siddheswarananda (Ramakrishna) - que pertenceu a um primo tão querido, Helion Póvoa Filho. Pontos de convergência e afinidades do Vedanta com a Contemplação infusa deste místico espanhol.
             
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5 comentários:

elisa disse...

Que intervalo às agruras... super necessário e muito bem vindo!!!!Encarar a realidade assim com figuras tão reais e tão nobres em seus exemplos de vida,saber e agir são uma injeção e tanto!

Martha Pires Ferreira disse...

Si não temos vida interior prufunda, temos vida vazia, superficial, sem grandes encontros.

Martha Pires Ferreira disse...

Vida interior profunda, corrigindo.

elisa disse...

Sim é indispensável e uma vez conseguido ;passa a ser parte da forma de lidar com a vida,sentimo-nos fragilizados quando não nos alimentamos desta fonte interior,nunca pensei que um dia teria como disciplina de vida este tempo só nosso de tentar entender e estender canal à Alma,sem pieguismos devocionais( e também sem despreza-los) mas sinceramente encarando-nos como os que utilizam uma passagem,porta,portal sei lá como possamos encarar este relacionar...Para SERVIR ou SER ÚTIL às energias que nos tornem humanos conscientes de responsabilidades a cada passo em solidariedade e respeito e com Luas Novas fica (ao meu em meu caso)extremamente difícil,no entanto ,quando consigo,fazer que a personalidade aquiete-se em nome de um OUVIR INTERIOR abrem-se opções tanto na jornada diária quanto nas perspectivas de renovação e daí,só aí,penso:poderemos ser úteis a quem ou o que aqui viemos ...Mais uma vez cara Martha:AGRADEÇO-TE inclusive .

Martha Pires Ferreira disse...

viver a vida interior nos fortalece das ventanias do exterior. Gracias a Vida!