domingo, 26 de outubro de 2025

Poesias saem da caixa

  

     Não devo mais manter poesias na caixa com chave. Algumas já se desprenderam. É preciso deixar as folhas saírem ao vento, num sopro contínuo sem os sinais do tempo. Façanhas tão minhas, tenho pudor...

Verdade
 
Quero dizer o que penso
sem saber dizê-lo,
despida na autenticidade
sobre a beleza, a verdade
que envolve o silêncio
altas horas, recato no quarto.
 
Sempre assim, por vezes,
a alma se deixa levar...
apreende tesouro no interior
profundo abissal abismo;
revelação em nua verdade
cobre afetuosa luz na quietude.
 ****
Xis
 
Nada a mudar, realidade,
       impossível mudar
no que tange silencioso
      profundo da alma.
 
Tudo permanece em branco
na extensão do papel;
o quadrado não cabe
      num triângulo
da mesma proporção
equidistante, impossível!
 
Quando a noite se deita
     serena é possível
saber esperar no tempo.
 
O Sol abre os olhos
cada dia sem transgredir
o impossível xis das questões,
mantém vislumbre desconhecido
no movimento impossível.
****

Entrega
 
Deixar a lâmpada
do candeeiro atravessar
           espaço longo,
amplo sem receio _
                    arco invisível.
 
Entrega a carne para
           proeza do amor
sensual no silêncio
                oculto do verbo
que flama sôfrego
                sem temor,
sem tréguas
_ deixa a lâmpada acesa.
****

Último instante
 
Quando o amor no sangue
                     escoa sem tréguas
dias passados...
último instante respira,
a noite cobre o lenço
                   escuro da memória
ilusão tecida em fios.
 
Ontem inclinado sobre a mesa,
                mãos tensas na madeira
a taça cheia do ser
                    escondia o fôlego;
palavras cortadas em remotas
aventuras sem tormento...
                        reencontro é prazer!
 
A voz cortada adormeceu
                               em meu peito
cobrindo o lenço luminoso
da última lembrança memorável!
 
Ontem presente, escoa
           no sangue vivo das artérias,
a voz presa dói por dentro
         e flama algo suave distraída.

                   Martha Pires Ferreira
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Nenhum comentário: